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Excesso de vaidade entre os homens tem levado a distorções de imagem
15/03/2013
Cada vez mais magros ou extremamente musculosos eles sofrem com os padrões de beleza
A excessiva valorização da estética pela sociedade moderna tem feito suas vítimas também entre os homens. Mais vaidosos do que nunca, eles têm protagonizado obsessões pelo corpo perfeito, que levam à distorção da auto-imagem, desencadeando patologias que à primeira vista são radicalmente opostas, mas quando melhor analisadas revelam ser, realmente, muito parecidas: a anorexia e a vigorexia.
A anorexia é bem conhecida e freqüenta o noticiário há um bom tempo pelas vítimas que faz no mundo da moda - jovens garotas que sonham em ter o corpo valorizado por esse meio.
Caracteriza-se, basicamente, pela recusa do paciente em alimentar-se, devido a um temor absurdo de ganhar peso. Já a vigorexia é a busca incessante e contínua (e a qualquer preço) por músculos. Leva à prática exagerada de exercícios, geralmente associada ao uso de anabolizantes e ao consumo indiscriminado de suplementos alimentares. É um fenômeno recente, que sequer foi catalogado como doença pelas publicações especializadas.
Chamadas de transtornos dismórficos corporais (anorexia) e musculares (vigorexia), ambas são patologias mentais: transtornos obsessivos de fundo sociocultural, gerados pela escravização dos padrões de beleza aos quais as pessoas se submetem nas sociedades modernas.
Alguns especialistas as consideram, inclusive, subprodutos de uma civilização competitiva, consumista e frívola, que valoriza o culto à imagem. Ambas impedem que a pessoa leve uma vida normal.
As diferenças entre as doenças
A vigorexia, também chamada de síndrome de Adônis (em uma referência ao herói grego famoso por sua beleza) ou de anorexia reversa, freqüentemente faz com que suas vítimas abandonem o trabalho e os relacionamentos para se dedicarem à incessante busca pelo corpo perfeito. Por mais fortes que estejam, os homens vigoréxicos sempre se consideram fracos, magros e até esqueléticos.
É uma patologia predominantemente masculina, ao contrário da anorexia, que tem como principais vítimas as mulheres.
Por ser um fenômeno mais recente, essa doença ainda não dispõe de dados estatísticos - muito menos de grupos de apoio. Mas entre as tantas semelhanças com a anorexia está a variação da incidência de acordo com a população. "O número é alto entre os freqüentadores de academias e pode chegar a 20% entre os halterofilistas", alerta a psiquiatra Jocelyne Levy Rosenberg, autora do livro Lindos de Morrer - Dismorfia Corporal e Outros Transtornos Obsessivos: Um Risco para Ela e para Ele (Ed. Celebris Autora).
A médica acrescenta: "a pessoa pode ter uma propensão anterior ao problema ou simplesmente desenvolvê-la nesse am biente". Há casos de vigorexia feminina, que inclusive envolve o uso de anabolizantes. Mas o índice é baixo, assim como a anorexia em homens.
Acredita-se que a doença que faz a pessoa emagrecer demais e sempre se achar gorda, mesmo que esteja com os ossos à mostra, atinja de 0,5% a 2% da população jovem feminina, mas no campo da moda esse número cresce assustadoramente, podendo chegar a 40%.
"É mais comum entre adolescentes, embora atinja meninas de nove anos. Curiosamente, também foi notado um grupo de anoréxicas maduras, já com os filhos criados, que partem em busca da beleza e juventude perdida a partir de uma crise pessoal, geralmente a depressão", conta a médica Jocelyne.
Há alguns anos, as pesquisas mostravam que de cada 100 casos de anorexia apenas um era de homem. Hoje esse número aumentou", afirma o psicólogo Raphael Cangelli Filho, responsável pelo grupo masculino do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), do Instituto de Pisquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/USP).
O Ambulim foi criado em 1992 e, desde então, registra uma crescente procura masculina. Tanto que em outubro de 2006 foi criado o serviço masculino, que hoje atende a 15 homens, um quinto do número de mulheres. "Esses pacientes têm o mesmo desejo da magreza e o medo exagerado de engordar que as mulheres. Acreditam que o corpo magro traz sucesso e benefícios para a sua vida afetiva e profissional", explica o psicólogo Raphael Cangelli.
Os riscos à saúde
Por ter causas psicologicamente mais enraizadas e estar freqüentemente associada a outras obsessões, a anorexia é considerada mais grave do que a vigorexia, mas ambas trazem grandes prejuízos à capacidade funcional do paciente, com freqüentes relatos de isolamento, além dos graves problemas de saúde.
No caso da vigorexia, é comum as vítimas perderem o discernimento do que é razoável e abandonarem seus compromissos para passarem horas na academia. "O excesso de exercícios começa a levar a alterações hormonais e a grandes descargas de adrenalina e endorfinas que geram dependência química pela atividade. Soma-se a esse distúrbio psicológico um quadro de insatisfação permanente", explica o médico fisiologista Paulo Zogaib, do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte (Cemafe), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A sobrecarga de exercício gera uma síndrome orgânica-sistêmica que leva ao aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca, a arritmias e a distúrbios alimentares, que, por sua vez, desencadeiam anemia e deficiências vitamínicas. Tudo isso sem falar nas chances de lesões do aparelho locomotor.
O quadro piora se há o uso de anabolizantes. A substância sozinha pode levar a uma série de riscos e efeitos colaterais metabólicos: propensão ao câncer, disfunções sexuais, sobrecarga cardiovascular e hepática, piora do perfil de gordura (com aumento do colesterol ruim), retenção de líquidos e aumento da pressão arterial. Mas, associada aos exercícios exagerados, pode piorar a vida dos vigoréxicos.
"Quando há o overtrainning (excesso de treino), o organismo responde com uma falência de adaptação. É um mecanismo de defesa que gera perda de força e resistência, além de menor rendimento, alterações no humor e distúrbios alimentares. O anabolizante, por sua vez, aumenta a capacidade do organismo de se adaptar à sobrecarga. Resultado: dobramse os riscos, tanto os oferecidos pelo excesso de exercícios quanto aqueles associados aos anabolizantes", explica Paulo Zogaib.
O tratamento da anorexia e da vigorexia, encontra, na resistência dos próprios pacientes em admitir a doença, a sua principal dificuldade. "Os anoréxicos, normalmente, só procuram o tratamento médico quando começam a apresentar sinais como fraqueza, desmaios e perda de memória, nunca pela magreza", conta o psicólogo Raphael Cangelli Filho, do Hospital das Clínicas, da USP.
"Já o vigoréxico, dificilmente admite seu problema. Como se fosse um vício, ele acredita que pode largar a musculação a qualquer momento", acrescenta o fisiologista Paulo Zogaib, do Cemafe. Por isso, os especialistas não falam em cura, mas sim em manter os distúrbios sob controle.
Tratamento difícil
"A maioria dos pacientes fica bem por algum tempo. Depois, volta a apresentar o distúrbio. É uma evolução tortuosa", explica a psiquiatra Jocelyne Levy Rosenberg, para quem é preciso uma vigilância permanente sobre o paciente, sobretudo nos momentos de transição em sua vida: uma perda, uma mudança radical ou até mesmo o ingresso na faculdade, por exemplo. "Nestas fases, os jovens sentem que perdem o controle sobre suas vidas. E o controle mais básico que eles encontram é sobre o que podem ingerir", explica a médica.
Nos dois casos, apesar da pressão imposta pelos padrões de beleza ser importante, há também o fator genético, que torna alguns homens mais suscetíveis ao problema. Há pesquisas que apontam uma menor quantidade de neurotransmissores, como a serotonina (responsáveis pela sensação de satisfação e bem-estar), sendo fabricadas pelo cérebro de pessoas com distorções da auto-imagem.
Por isso, em ambos os casos, o tratamento pode fazer uso de medicamentos antidepressivos. "É lógico que cada caso requer um direcionamento diferente, com variações nas dosagens, nas associações com outros remédios e no acompanhamento por psicoterapia", conclui a psiquiatra Jocelyne.
ELAS SE PARECEM PORQUE...
- São patologias emocionais de fundo psicossocial, motivadas pela pressão da sociedade pelos padrões de beleza.
- São baseadas em uma distorção da auto-imagem corporal que os pacientes têm de si próprios, gerando permanente insatisfação.
- Podem ter componentes genéticos (predisposição) que somamse aos emocionais para desencadear as doenças.
- Caracterizam-se por comportamento compulsivo que leva ao isolamento e ao abandono das atividades normais.
- Causam graves problemas de saúde.
- De difícil diagnóstico, os pacientes não admitem estar doentes.
MAS SÃO DIFERENTES PORQUE...
- A anorexia valoriza o corpo excessivamente magro, enquanto a vigorexia cultua o corpo musculoso.
- A anorexia é predominantemente feminina e a vigorexia, masculina. Embora nada impeça que ocorra o contrário.
- O anoréxico nunca se acha suficientemente magro, enquanto o vigoréxico nunca se considera suficientemente forte.
- O anoréxico se sente culpado quando ingere mínimas porções de alimentos, enquanto o vigoréxico busca uma ingestão excessiva de calorias, acompanhada pelo uso de numerosos e perigosos suplementos vitamínicos, hormônios e anabolizantes.
Fonte: Minha vida
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