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Cirrose hepática: é possível evitar um transplante de fígado adotando bons hábit
31/07/2014
Diagnóstico precoce e prevenção de complicações pode eliminar necessidade de cirurgia
A cirrose hepática ocorre quando a estrutura normal do fígado é substituída por tecido fibroso, decorrente de cicatrização por agressão crônica, com dano irreversível das células do fígado e comprometimento de sua função. É a condição mais frequente que leva ao transplante hepático em adultos e crianças, sendo causada por hepatite crônica por vírus B ou C, álcool, hepatites autoimunes, doença hepática gordurosa não alcoólica, doenças que comprometem as vias biliares, incluindo a cirrose biliar primária, colangite esclerosante e cirrose biliar secundária e atresia de vias biliares na infância, hepatites fulminantes (drogas, vírus).
Muitos portadores de doenças do fígado apresentam função hepática normal e não necessitam de transplante, podendo nunca chegar a ter um quadro avançado onde seja necessário esse procedimento. Mas com grande frequência ocorre uma piora progressiva da função, levando a uma falência ou insuficiência hepática, onde a única forma de tratamento é o transplante. Como essa progressão é muito variável, todo paciente deve ser acompanhado por um gastroenterologista ou hepatologista para determinar o momento ideal para sua inscrição na lista de transplante de fígado da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo.
O diagnóstico de algumas doenças do fígado em estágio inicial e seu tratamento, como no caso das hepatites virais e autoimunes pode controlar a doença, mesmo em um estágio de cirrose. Da mesma forma a identificação de lesão hepática por alcoolismo e a interrupção do uso de álcool pode evitar a progressão da doença.
Nessa fase em que o paciente apresenta uma condição hepática ainda boa, preservada ou com pequena redução de sua função, é muito importante manter boas condições de vida, como:
- Hábitos alimentares saudáveis
- Controle de peso
- Controle de diabetes
- Controle do colesterol
- Controle do nível de triglicérides
- Evitar bebidas alcoólicas
- Fazer uso adequado de medicamentos quando necessário
- Prevenção, identificação e tratamento das complicações da cirrose.
Dessa forma, a piora da doença pode ser reduzida, evitando ou adiando um transplante de fígado.
Os principais avanços no tratamento da cirrose são decorrentes do reconhecimento das suas complicações e realização de tratamentos específicos, visando impedir que os mesmos ocorram ou que levem a uma piora da função hepática.
Uma das complicações mais frequente da cirrose é a ascite, que é o acúmulo de líquido dentro do abdômen, que aparece devido a um aumento de pressão dentro das veias que chegam ao fígado decorrente da fibrose do órgão, associada a baixos níveis de proteínas pela redução da sua produção pelo fígado.
Para evitar sua formação ou tratar quando já apareceu, é preciso ter uma dieta com pouco sal e rica em proteínas, evitando a carne, restringindo líquidos e fazendo uso de medicamentos diuréticos para ajudar na eliminação desse líquido. Pode ocorrer ainda uma infecção do líquido de ascite, ou seja, uma peritonite bacteriana espontânea, que deve ser reconhecida e tratada o quanto antes, pois pode se tornar um importante fator de piora do quadro do paciente.
Outra complicação importante, que muitas vezes pode levar o paciente a óbito, é a hemorragia decorrente de varizes de esôfago. As varizes de esôfago são dilatações de veias do esôfago, decorrentes do aumento de pressão dentro dos vasos que chegam ao fígado, devido à fibrose hepática. Todo paciente com doença hepática crônica deve ser submetido a uma endoscopia digestiva para a identificação das varizes de esôfago e tratamento quando necessário, com esclerose ou ligadura elástica dos vasos, para impedir a ocorrência de hemorragia. Além disso, o uso de medicamentos específicos, beta bloqueadores, pode ajudar a reduzir a pressão das varizes, diminuindo o risco de sangramento.
A encefalopatia hepática é outra complicação grave da cirrose, causada pelo acúmulo de substâncias tóxicas decorrentes da perda de função do fígado. Caracteriza-se por um conjunto de alterações neurológicas, com tremores, distúrbio do sono e alteração no ritmo sono-vigília, ou seja, o paciente fica muito sonolento durante o dia e mais acordado e agitado durante a noite, podendo progredir até o coma nos casos mais avançados. Pode estar associada à ingestão excessiva de carne, sangramentos e desequilíbrios do potássio por uso de diuréticos. Por isso, para evitar a encefalopatia é importante evitar ingestão de carne, cuidados com uso dos diuréticos sempre com acompanhamento médico regular, evitar desidratação, infecções e manter ritmo de funcionamento intestinal regular, para evitar acúmulo de substâncias que podem desencadear encefalopatia.
Os pacientes com cirrose devem ser vistos regularmente por um médico, que o monitorará para o desenvolvimento ou a presença das complicações da cirrose. O controle dessas complicações é fundamental para a preservação da função hepática. O aparecimento recorrente de complicações e a dificuldade no controle destas acarreta no comprometimento progressivo do fígado, com pior prognóstico para o paciente e necessidade de transplante de fígado. Alguns sintomas podem sugerir a piora do quadro de cirrose, como cansaço intenso, perda de apetite, perda de peso, ascite e edema de membros inferiores, encefalopatia hepática, sangramentos e equimoses espontâneos, icterícia.
O paciente candidato ao transplante de fígado é colocado em uma lista única de espera, baseada em um índice de gravidade da doença conhecido como MELD (Model for End-Stage Liver Disease). Esse índice corresponde a um valor numérico que varia de 6 a 40 - os pacientes mais graves apresentam MELD mais elevado e terão prioridade na realização do transplante.
Para o cálculo do MELD utiliza-se fórmula matemática com os resultados de três exames laboratoriais: nível de bilirrubina, creatinina (uma medida da função renal) e RNI (Relação Normalizada Internacional), uma medida da atividade da protombina, que mede a produção de fatores de coagulação pelo fígado.
Os exames de laboratório para cálculo do MELD tem validade definida e precisam ser renovados com a seguinte frequência:
- MELD até 10: validade de doze meses, exame colhido nos últimos 30 dias
- MELD de 11 a 18: validade de três meses, exame colhido nos últimos 14 dias
- MELD de 19 a 24: validade de um mês, exame colhido nos últimos sete dias
- MELD maior que 25: validade de sete dias, exame colhido nas últimas 48 horas
- Geralmente o nível de MELD para o paciente ser colocado na lista de transplante é 15.
A mortalidade é grande na lista de espera, por isso é muito importante acompanhamento médico regular para a prevenção, identificação e tratamento adequados das complicações da cirrose, com o intuito de preservar a qualidade de vida até o transplante.
Fonte: Minha Vida
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