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Quer um refúgio de tranquilidade? Entenda o que é meditação e aprenda a praticar
16/09/2015
Com poder de reduzir o estresse, a depressão leve e preservar a estrutura do cérebro, a meditação é benéfica para a maioria das pessoas; veja como praticar e quais são as contraindicações
Mitos giram por aí em torno da meditação. Muitos acreditam que ela só é praticada a partir de uma concepção mística ou religiosa, outros acreditam ser impossível não pensar em nada para meditar, como se ouve comumente quando se conversa sobre o assunto. No entanto, a meditação pode ser feita fora de conceitos religiosos e sua prática faz aliviar o estresse, melhorar casos de depressão leve e moderada e pode até fazer a estrutura do cérebro mudar pra melhor. Especialistas explicam como praticar uma técnica básica para iniciantes e as restrições da meditação. Acredite, há.
Segundo o ginecologista Roberto Cardoso, doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autor do livro Medicina e Meditação, a meditação é uma técnica em que a própria pessoa aplica, a partir de dois componentes: o foco ou âncora e o relaxamento da lógica. Sem eles, a meditação não é eficaz.
Pode ter uma âncora na própria respiração, no som que pronuncia, no próprio momento presente, diz Cardoso, explicando que a âncora é um foco em que se presta atenção na hora de meditar.
Logo, meditação não é pensar em nada. Esse mito, segundo o médico, veio por causa de uma interpretação do conceito de relaxamento da lógica, o segundo componente essencial para meditar. Relaxar a lógica significa se libertar de sequências de pensamentos durante a meditação e concentrar-se na âncora (foco). Segundo Cardoso, o relaxamento da lógica consiste em pretender não analisar pensamentos ou efeitos, pretender não julgar e pretender não criar expectativas em relação à prática e seus efeitos. Para isso, o meditador deverá evitar se envolver nas sequências de pensamentos, diz ele.
Parece difícil? Sim, mas nada que um pouco de prática não faça melhorar. Quando se está meditando e concentrado na respiração, por exemplo, e vem um pensamento sobre o cachorro de estimação, a ideia é desviar esse pensamento e buscar concentrar-se na respiração novamente.
Isso parece complicado, mas se você permanece na âncora (o foco) e toda vez que percebe que o pensamento está vagando, foge desse fluxo e volta para a âncora, e vai fazendo isso repetidamente, você fica craque. É uma malhação neuronal, conta ele.
• Nunca meditou? Você pode começar agora
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a meditação não é indicada para pessoas com distúrbios mentais sérios e que estão em crise. Segundo a pesquisadora do Instituto do Sono do Hospital Albert Einstein, Elisa Kozasa, pessoas com esquizofrenia, por exemplo, devem consultar o psiquiatra antes de tentar meditar.
Não existem estudos que mostrem prejuízos, mas é importante ter cautela pelo efeito da própria prática, de introspecção, alerta ela. O mesmo vale para quem está em crises depressivas ou tem depressão grave. Quando sair da crise, pode fazer a meditação para prevenir novas recaídas, já que quem tem um transtorno tem sujeição a termais episódios, diz.
Pacientes hipertensos têm benefícios com a meditação, mas aqueles com alguns tipos de problemas cardíacos não. Dependendo do exercício respiratório, pode ser que haja hiperventilação, diz Elisa, que recomenda que todos que têm algum problema de saúde consultem um médico antes de começar a meditar.
Dado as ressalvas, Roberto Cardoso explica que para começar a meditar, é preciso procurar um local tranquilo.
Se a pessoa já está acostumada a meditar, vai meditar em quase qualquer lugar, mas para quem está começando, o ambiente tranquilo, em uma poltrona ou cadeira, é importante, diz. Segundo ele, não é preciso ficar sentado com as pernas cruzadas, em posição de lótus. Só se estiver acostumado a isso. Recomenda-se fechar os olhos para evitar estímulos visuais.
A partir de então, de 15 a 20 minutos por dia é o recomendado por Cardoso. E concentrar-se na respiração ou em outra âncora (foco), desviando-se dos pensamentos que insistem em surgir e procurando concentrar-se no foco novamente.
Com a prática constante, diz ele, a meditação é capaz de mudar a estrutura do cérebro.
Na depressão, ela regula a neuroquímica do cérebro, por isso pode reduzir a depressão. Além disso, depois de alguns meses, ela estimula a sensação de estar satisfeito com a vida, a pessoa adquire uma maior satisfação às coisas, se torna menos consumista, e isso faz com que você tem uma satisfação com a situação de vida, reduzindo aquela tendência a ficar meio tristinho, diz.
O cérebro, segundo o médico, entra em estado de equilíbrio, um modo de atenção relaxado. Quando você está atento, está tenso. Quando está relaxado, às vezes fica desatento, bem distraído. A meditação produz um estado de atenção relaxada, diz Cardoso.
Esse estado é interessante porque você fica focado, ocupa algumas áreas que realmente são usadas para disparar reações de alarme – e eles não disparam porque estão ocupados. Isso faz o cérebro diminuir cerca de 30% de sua atividade, operando de uma maneira que desgasta menos, diz ele.
Com isso, o cérebro acaba sendo protegido: as áreas envolvidas são várias, e a meditação preserva a população de neurônios e estrutura do cérebro, segundo o ginecologista.
• Meditação está ligada à religião ou crenças?
Cardoso esclarece a confusão de que para meditar, é preciso fazer parte de alguma crença ou religião. Segundo ele, basta imaginar uma situação hipotética, como um grupo de monges em um mosteiro que tem o hábito de sair uma vez ao dia e caminhar por meio da natureza.
É considerado um hábito monástico. Depois, estudos mostram que caminhar uma vez ao dia para ver a natureza faz bem de verdade, mesmo que a pessoa não seja um monge. Ou seja, mesmo fora do contexto religioso, faz bem, conta ele.
A meditação é a mesma coisa, existe em todas as culturas, mesmo entre aquelas que não se conheceram, e sempre estava dentro de um contexto cultural, às vezes místico, às vezes não.
Ele diz que, como antigamente tudo o que envolvia o autoconhecimento, autocuidado e autodesenvolvimento era atribuição de xamãs, pagés ou sacerdotes, então é natural que a meditação esteja historicamente ligada à religião.
Não há obrigatoriedade. Dou palestras na área corporativa, e quando você pede para um executivo meditar, vai usufruir dos benefícios também. Se quiser meditar em um cenário budista, também não há problema.
Fonte: Saúde iG
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